Casos de sucesso - JORNAL OJE 09/03/12

A herdade Vale da Rosa, em Ferreira do Alentejo, tem 170 hectares plantados e 60 preparados. O investimento em irrigação gota-a-gota, estufas, plantas e preparação pode chegar aos 80 mil euros por hectare. As variedades são testadas e ajustadas ao clima. Em janeiro, faz-se a poda; em fevereiro, dá-se fósforo, para obter mais frutos; depois introduz-se cálcio, para maior resistência da película da uva; e, no final, potássio, para destacar o sabor. Na propriedade, fazem-se três seleções de bagos, para melhor crescerem os mais belos e resistentes. A packing-house é certificada e a embalagem é valorizada, especialmente a que se destina à exportação. Ao OJE, António Silvestre explicou a razão, as dificuldades e o sucesso do seu negócio.
Porque decidiu investir na uva de mesa em Ferreira do Alentejo?
O meu pai veio para esta terra há 60 anos, investiu na uva de mesa e conseguiu até exportar para a Marks & Spencer, em Inglaterra. Quando nos tomaram a propriedade, no 25 de abril, fomos para o Brasil e lá continuei a seguir este trilho. Em 1980, restituiram-me a propriedade e, em 1999, regressei, trazendo inovações, como as uvas sem grainha.
Que razões o levaram a escolher as variedades que plantou?
Cada espécie tem características distintas para mercados diferentes. Algumas é porque aguentam melhor o transporte, outras por amadurecerem mais tarde. Por exemplo, a Cardinal tinta, que é grande e doce, fica por cá. A Red Globe, menos doce, também. Já a Vitória, branca e grande, é exportada. A Palieri é tardia. Exportamos 47% da produção, principalmente a Crimson, sem grainha, que é a preferida pelos ingleses.
Quais são as principais dificuldades na cultura da uva?
É essencial ter uma equipa motivada e competente. O custo e a burocracia para a água dos furos são muito elevados. O funcionário público é quem deveria procurar o agricultor para oferecer tecnologia e apoio. A agricultura é a mola que falta para o desenvolvimento. Um carro exportado é 90% de importação. Um camião de uvas é 90% de produto local.
Qual é o principal obstáculo na venda da uva de mesa?
Faltam cooperativas ou clusters bem organizados. É um problema cultural, organizações deste tipo é que devem comandar a distribuição.
O que é mais difícil no processo de exportação?
Organização e competência. Precisamos de Observatórios, mesmo que informais, em cada região, com produtores de sucesso. E criar a imagem de um Portugal Produtor.
Em que medida a Direção Regional da Agricultura pode apoiar a atividade exportadora de empresas como a Vale da Rosa?
Devem apoiar os produtores que mostram sucesso e levar outros a ver os bons exemplos. O produtor tem necessidades e prioridades diferentes das do funcionário que o atende ao balcão. Em Portugal, perde-se muito tempo com papéis, com o "venha amanhã novamente". O funcionário público deve servir e não dificultar.
O que deveria fazer a AICEP?
Profissionalizar-se. Não é preciso reinventar a roda. Portugal ainda não age como exportador. No ano passado, esteve, pela primeira vez, na Logifruit em Berlim, Alemanha.
Qual é, no seu entender, o maior problema do Alentejo?
Quando a água do Alqueva chegar a todos, precisamos de organização. Temos ótimas condições de Sol e solo. Os apoios ao produtor devem ser limitados, os mais urgentes são seguros adequados e tecnologia. A função do Estado deve ser apenas fiscalizar e deixar a sociedade civil e o produtor trabalhar. O crédito rural deve ser sério, não "fazer de conta". Também precisamos de tecnologia. É seguir o exemplo de Andaluzia!
Qual é o maior problema das PME portuguesas?
Urge criar crédito para as empresas poderem investir. Sem investimentos não há riqueza nem empregos. E devem também investir nas pessoas.
Se fosse ministro da Agricultura, qual seria a sua principal ação? E ministro da Economia?
Considero que deve ouvir-se quem mostra resultados e levar as melhores práticas a outros produtores e regiões. Considero ainda que a produção e a distribuição devem sentar-se à mesma mesa para que todos lucrem, única forma de o País lucrar.
O Empresário
António Silvestre, 63 anos, comendador, é casado e tem quatro filhos que ajudam o Vale da Rosa a crescer. Originário do Oeste, veio para Ferreira do Alentejo ainda miúdo. Na sequência da Revolução do 25 de abril de 1974 foi para o Brasil, onde começou por lecionar. Depois plantou uvas, como o pai. Regressou a Portugal no ano 2000. Ao fim do dia, reúne os técnicos para monitorizar os resultados e programar o dia seguinte. Trata cada empregado pelo nome. No pico da colheita, chega a ter 500. A sua equipa compreende técnicos de Itália, Espanha e Israel.
Obrigado, e Bom Trabalho
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